Marmelada
Estávamos nos idos de Outubro, e o dia raiara bem quentinho. Lá fora, as folhas, de tons castanhos e dourados, forravam as ruas, despindo assim, lentamente, os ramos das árvores. Os primeiros sons faziam-se sentir, como o tilintar do eléctrico accionado pelo guarda-frei, os passos apressados dos que se dirigiam para o trabalho soavam na calçada já gasta, e o alvoroço provocado pelas crianças, que tagarelavam umas com as outras como se não se vissem há muito.
Mariana, abria as longas portadas de madeira e, de imediato, se fazia sentir o intenso odor da maresia que, rapidamente, se entranhava pela casa. O rosto daquela mãe, já delineado por alguns traços, fruto da traquinice imensa dos seus dois rapazes, fitava a sua prole até se assegurar de que entravam na escola, situada ao fundo da rua.
No momento em que se recolhia, ouve o pregão do homem da fruta, que passava à sua porta e, de forma célere pega na sua pequena carteira, com apenas algumas moedas e desce a escadaria ao seu encontro para comprar uns limões e uns marmelos. Mais à frente, numa minúscula mercearia de bairro, que ostentava à entrada grandes sacas de feijão e outras leguminosas, Mariana pede ao senhor António, um homem forte e barrigudo, um quilo de açúcar para fazer a sua marmelada.
Já em casa, e depois das suas lides rotineiras e após um fraco almoço, Mariana senta-se numa cadeira, junto à mesa da cozinha revestida por um tampo de mármore e dá início à sua árdua tarefa de descascar e descaroçar os tantos marmelos que havia adquirido.
Coloca-os ao lume, cortados em pequenos pedaços, juntamente com o açúcar e, enquanto envolve de forma lenta e persistente aqueles dois ingredientes, ouve com muita atenção o "Tide", um folhetim radiofónico, emitido pela Emissora Nacional. Encostado ao loiceiro alvo, estava o pequeno rádio do qual brotavam muitas vezes ruídos, provocados pela sua velhice e fraca captação, mas que não dissuadiam Mariana de seguir atentamente aquela novela que lhe prendia a alma e os sentidos, talvez por não saber quais os actores que aí contracenavam.
O folhetim acabou e, naquela imensa cozinha ouve-se apenas o suspiro de Mariana, que sonha com a vida e as histórias daqueles personagens, desenhando na sua mente traços, fisionomias, cores de olhos e cabelos...
Um miar de um gato vindo do exterior acorda-a daquele pequeno devaneio e consegue, mesmo a tempo, salvar a sua marmelada. Retira-a do lume e preenche pequenas malgas, nas quais se vislumbram minúsculas lascas, tapando cada uma com uma folha de papel vegetal, à qual prende um elástico, para evitar que o pó ou mosquitos se imiscuam no seu interior, e coloca-as no parapeito da janela para que possa secar.
O rebate dos sinos da Igreja marcando as cinco horas da tarde, lembrava o regresso das crianças a casa e, por conseguinte, tempo de preparar um lanche que saciasse aquelas jovens bocas. Assim que se sentam à mesa, depois de terem poisado as suas sacolas e de terem lavado as mãos, os dois rapazes devoram, num ápice, o lanche preparado pela sua progenitora.
O Manelinho, o mais velho, mas também o mais guloso, repara na marmelada disposta no parapeito da janela e, desde logo, elabora um plano para poder comê-la, sem que a sua mãe se aperceba.
Deste modo, e aproveitando que esta se ausenta para conduzir o mais novo a tomar um bom banho, num alguidar de folha zincada, Manelinho depressa se abeira de uma das malgas, retira o elástico delicadamente ali colocado e, com a palma da mão retira a totalidade da marmelada, deglutindo-a de uma só vez. Cobre de novo a taça com o papel vegetal como se nada ali se tivesse passado.
No dia seguinte, cerca das quatro horas da tarde, Mariana recebe em sua casa a visita de duas amigas para tomarem um chá e provarem a marmelada: Ilda, franzina, de olhos encovados e de sorriso fácil, e Lurdes, uma mulher forte, que a cada passo dado fazia ecoar o que pareciam ser pequenos estalinhos de Carnaval, pois os seus ossos já pediam mais repouso.

Enquanto Mariana encaminhava as suas amigas até à sala, nela já se encontravam aqueles reguilas, escondidos de toda a gente, debaixo da camilha, onde as senhoras se iriam sentar, gesticulando e emitindo pequenos sorrisinhos que levou,com brevidade à sua descoberta.
A mãe, irada e de olhos bem arregalados, olha na direção das suas crias apelando à sua falta de educação para com aquelas visitas. Triste com aquele comportamento dos menores, mas não perdendo a postura perante as suas amigas, Mariana que já havia colocado sobre a mesa um tabuleiro de estanho estampado com flores de cor rosa, no qual encimava um bule de chá de erva-príncipe, umas bolachinhas e uma das taças de marmelada, dava início à conversa com Ilda e Lurdes, recordando momentos já vividos, como o do nascimento dos filhos, falando das maleitas que cada uma já carregava, enfim...
Quando se preparava para destapar e servir a marmelada, Mariana repara que a malga está completamente vazia. Siderada, atónita com o facto, quase desfalece; mas, em simultâneo, percebe que o autor daquela façanha só pode ser Manelinho que, ao ouvir o primeiro som estridente vindo da sala, fugazmente se embrenha entre os lençóis da cama, fingindo que dorme um sono pesado. A mãe, amedronta-o e promete fazer queixa ao pai assim que este chegar. Manelinho, fica deveras aflito e, sem demora pede desculpa.
Mariana, abria as longas portadas de madeira e, de imediato, se fazia sentir o intenso odor da maresia que, rapidamente, se entranhava pela casa. O rosto daquela mãe, já delineado por alguns traços, fruto da traquinice imensa dos seus dois rapazes, fitava a sua prole até se assegurar de que entravam na escola, situada ao fundo da rua.
No momento em que se recolhia, ouve o pregão do homem da fruta, que passava à sua porta e, de forma célere pega na sua pequena carteira, com apenas algumas moedas e desce a escadaria ao seu encontro para comprar uns limões e uns marmelos. Mais à frente, numa minúscula mercearia de bairro, que ostentava à entrada grandes sacas de feijão e outras leguminosas, Mariana pede ao senhor António, um homem forte e barrigudo, um quilo de açúcar para fazer a sua marmelada.
Já em casa, e depois das suas lides rotineiras e após um fraco almoço, Mariana senta-se numa cadeira, junto à mesa da cozinha revestida por um tampo de mármore e dá início à sua árdua tarefa de descascar e descaroçar os tantos marmelos que havia adquirido.
Coloca-os ao lume, cortados em pequenos pedaços, juntamente com o açúcar e, enquanto envolve de forma lenta e persistente aqueles dois ingredientes, ouve com muita atenção o "Tide", um folhetim radiofónico, emitido pela Emissora Nacional. Encostado ao loiceiro alvo, estava o pequeno rádio do qual brotavam muitas vezes ruídos, provocados pela sua velhice e fraca captação, mas que não dissuadiam Mariana de seguir atentamente aquela novela que lhe prendia a alma e os sentidos, talvez por não saber quais os actores que aí contracenavam.
O folhetim acabou e, naquela imensa cozinha ouve-se apenas o suspiro de Mariana, que sonha com a vida e as histórias daqueles personagens, desenhando na sua mente traços, fisionomias, cores de olhos e cabelos...
Um miar de um gato vindo do exterior acorda-a daquele pequeno devaneio e consegue, mesmo a tempo, salvar a sua marmelada. Retira-a do lume e preenche pequenas malgas, nas quais se vislumbram minúsculas lascas, tapando cada uma com uma folha de papel vegetal, à qual prende um elástico, para evitar que o pó ou mosquitos se imiscuam no seu interior, e coloca-as no parapeito da janela para que possa secar.
O rebate dos sinos da Igreja marcando as cinco horas da tarde, lembrava o regresso das crianças a casa e, por conseguinte, tempo de preparar um lanche que saciasse aquelas jovens bocas. Assim que se sentam à mesa, depois de terem poisado as suas sacolas e de terem lavado as mãos, os dois rapazes devoram, num ápice, o lanche preparado pela sua progenitora.
O Manelinho, o mais velho, mas também o mais guloso, repara na marmelada disposta no parapeito da janela e, desde logo, elabora um plano para poder comê-la, sem que a sua mãe se aperceba.
Deste modo, e aproveitando que esta se ausenta para conduzir o mais novo a tomar um bom banho, num alguidar de folha zincada, Manelinho depressa se abeira de uma das malgas, retira o elástico delicadamente ali colocado e, com a palma da mão retira a totalidade da marmelada, deglutindo-a de uma só vez. Cobre de novo a taça com o papel vegetal como se nada ali se tivesse passado.
No dia seguinte, cerca das quatro horas da tarde, Mariana recebe em sua casa a visita de duas amigas para tomarem um chá e provarem a marmelada: Ilda, franzina, de olhos encovados e de sorriso fácil, e Lurdes, uma mulher forte, que a cada passo dado fazia ecoar o que pareciam ser pequenos estalinhos de Carnaval, pois os seus ossos já pediam mais repouso.

Enquanto Mariana encaminhava as suas amigas até à sala, nela já se encontravam aqueles reguilas, escondidos de toda a gente, debaixo da camilha, onde as senhoras se iriam sentar, gesticulando e emitindo pequenos sorrisinhos que levou,com brevidade à sua descoberta.
A mãe, irada e de olhos bem arregalados, olha na direção das suas crias apelando à sua falta de educação para com aquelas visitas. Triste com aquele comportamento dos menores, mas não perdendo a postura perante as suas amigas, Mariana que já havia colocado sobre a mesa um tabuleiro de estanho estampado com flores de cor rosa, no qual encimava um bule de chá de erva-príncipe, umas bolachinhas e uma das taças de marmelada, dava início à conversa com Ilda e Lurdes, recordando momentos já vividos, como o do nascimento dos filhos, falando das maleitas que cada uma já carregava, enfim...
Quando se preparava para destapar e servir a marmelada, Mariana repara que a malga está completamente vazia. Siderada, atónita com o facto, quase desfalece; mas, em simultâneo, percebe que o autor daquela façanha só pode ser Manelinho que, ao ouvir o primeiro som estridente vindo da sala, fugazmente se embrenha entre os lençóis da cama, fingindo que dorme um sono pesado. A mãe, amedronta-o e promete fazer queixa ao pai assim que este chegar. Manelinho, fica deveras aflito e, sem demora pede desculpa.
Modo Tradicional:
Ingredientes:
800 G Marmelos com casca, mas sem caroços
800 G Açúcar
1 Limão descascado sem parte branca e sem caroços
Preparação:
Coloque num liquidificador todos os ingredientes e triture.
Com a ajuda da espátula verta o preparado num tacho e deixe cozinhar com tampa, em lume médio, durante cerca de 30 minutos, mexendo com frequência para não agarrar ao fundo (se necessário, baixe o lume).
Coloque em taças e deixe arrefecer.
Modo Bimby:
Ingredientes:
800 G Marmelos com casca, mas sem caroços
800 G Açúcar
1 Limão descascado sem parte branca e sem caroços
Preparação:
Coloque no copo todos os ingredientes e triture 30 seg/ vel. 9.
Com a ajuda da espátula baixe o que ficou na parede do copo e programe 30 min/ 100 ºC/ vel. 3.
Coloque em taças e deixe arrefecer.
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